Guy Veloso

Guy Benchimol de Veloso nasceu (1969) e trabalha em Belém-Pará, metrópole de 1,5 milhões de habitantes no coração da Amazônia. De formação acadêmica em Direito (1991), é fotógrafo independente desde 1988.

Seu trabalho já recebeu publicações nacionais e internacionais, e compõe os acervos da “University of Essex Collection of Latin American Art”, Colchester-Inglaterra; “Coleção Nacional de Fotografia”, Centro Português de Fotografia, Porto-Portugal; Museu de Fotografia de Curitiba-PR; Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro-RJ, Coleção Rosely Nakagawa e Coleção Joaquim Paiva/Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Para Rubens Fernandes Júnior, professor e curador especializado de fotografia, “as imagens de Guy Veloso surpreendem pelo non sense, pelo surreal, pela completa dissonância entre o mundo real e o outro mundo”. Paulo Máttar, curador e crítico de arte, segue o mesmo raciocínio: “interessante um certo desconforto, um certo estranhamento que provocam”.
Já o fotógrafo e curador Walter Firmo, revela: “a arte de Guy Veloso está em retransmitir sinais febris de uma horda encantada com a fé”. Texto na íntegra (Menu acima).
Já em 1998 realizou (com apoio técnico de Antonio Fonseca) a primeira vernissage transmitida ao vivo pela Internet no Brasil, uma das pioneiras do gênero no mundo. Em 2007 foi tema de um documentário para TV dirigido por Débora 70.

Em 2005 inicia trabalho paralelo como curador de mostras fotográficas. No mesmo ano, integra o livro “Fotografia no Brasil, Um olhar das Origens ao Contemporâneo”, de Angela Magalhães e Nadja Peregrino. Estas mesmas pesquisadoras ditaram: “sua obra é permeada por um grafismo e luminosidade laboriosamente trabalhados, evidenciando um apuro técnico e a paixão pela linguagem fotográfica”.
“Os ensaios de Guy Veloso convidam a uma experiência falaciosa. O chamamento parece sempre para o assunto, mas o discurso é sempre a própria cor como tônus do virtual”, conclui Paulo Herkenhoff, curador e crítico de arte.

Ensaio – Amazônia

Ensaio – Boa Morte

Ensaio – Santiago de Compostela

Ensaio – Entre a Fé e a Febre

Um documento de olhar pessoal

“Entre a fé e a febre – Retratos”, do abnegado, voluntarioso e criativo fotógrafo Guy Veloso, filho e residente da desassombrada Belém do Pará, retrata-nos a saga dos romeiros de Juazeiro do Norte-CE, dos peregrinos de Bom Jesus da Lapa-BA e penitentes diversos do interior profundo do país, quando a cada ano desfraldam-se, fervorosos, batendo com a sola dos pés o quente sertão de barro duro, pagando promessas, orando pedidos quando “com fé eu vou, que a fé não costuma faiá*”.

Há em alguns retratos o orgulho do crédito, a pose definitiva de quem está com Deus em caminhos ornados de flores de um crepom desnaturado, santo simbolismo; o perpassar da fita oscilando sobre a tênue pele tangida em frugal sensualidade consentida diante do muro das lamentações; a máscara superposta sobre a face escondida protegida na alegoria dos sonhos desfocados e verdadeiros; a beata diante da santa ostentando galhardas asas brancas com a “corbeille” de mato verde colhida no campo; certa jovem a posar com ares da “Virgem”, encostada diante de um muro cinza empedrado protegida por Jesus Cristo, desfila-nos certa empáfia assegurada; os olhos de cega fé, mãos fechadas em rosário vestidas em pano preto observam os pecadores; a emblemática mulher transformada e ambulante, protege-se por detrás da imagem de Nossa Senhora das Graças, virgem iluminada cujo rosto guarda o ornamento das estrelas; a fervorosa de preto deitada em transe sobre uma fenda de pedra parece dormitar suas dores parida e inconsciente goza de aflições incontidas; o frenesi estonteante transfigura a face morena de uma romeira transitória no rito de passagem diante da Virgem Santa; as meninas de branco em pleno sertão, modeladas em exótico panorama entre as arvores desgalhadas gravitam solenes em asas de coração e flores de pano; outras meninas assim carregam o pudor branco do manto envolvidas na prece do bem-querer; finalmente a Santa Ceia tangida pelas mãos enrugadas de uma senhora de cabelos brancos, que parece carregar a fé de todo o mundo.

A arte de Guy Veloso está em retransmitir sinais febris de uma horda encantada com a fé. É um documento de sua alma fabril, incansável humanista em nos brindar nessa itinerância militante que a ”fé não costuma faiá”.

Walter Firmo Fotógrafo e Curador. Catálogo do Fotoarte Brasília, 2005. * Gilberto Gil, “Andar com Fé”.

Fonte: Fotografia Documental